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quarta-feira, 23 de novembro de 2011

Consciência um inimigo oculto...



Durante todos os anos de minha vida em que as injustiças se estampavam violentamente sobre meu rosto, agredindo-me silenciosamente, eu desejava em fuga ser a dona Maria, mãe de vários filhos que responde ao apresentador do telejornal “boa noite”, e que tem como passatempo favorito o show de calouros, aquele do velho Guerreiro “Chacrinha” com seu troféu abacaxi e suas chacretes despudoradas.
Os falsos pudores dos antepassados ainda me ferem a carne perturbando a mente.
-Ah! -O domingo! -Não! -Nada de domingão do Faustão! O que imperava era Silvio Santos e seu magnífico show de calouros, repaginado aos moldes dos dias atuais, jogando “dinheiro nacional” nos telespectadores, levando a multidão ao delírio e destruindo o civismo perdido após a ditadura.  
Novamente a consciência aos solavancos, trás me de volta o olhar crítico que entrelaça atitudes e arbítrio, que é vista por mim como humilhação.
            E a musiqueta irritante! “Abelardo Barbosa está com tudo”... Continua a me agredir os tímpanos, enquanto a dona Maria: lava, passa e cozinha educando seus filhos para uma sociedade aos avessos, bombardeada por valores imorais que estouram na escola e no país, apossado por escândalos de todos os tipos.   
E o tempo não para! Passa! E a sociedade transforma e é transformada, mais as donas Marias caminham suavemente rumo ao que penso não ter sentido. E o que tem sentido? O stress de uma louca que esbraveja palavras misturadas a sonhos utópicos, tentado mudar o mundo, agredindo a si e a todos.      
Por que se olha no espelho dizendo que o poder não é capaz de corrompê-la, fingindo não saber que os não se corrompem, cavam suas próprias sepulturas: Chico Mendes, líder dos seringueiros, Dorothy Stang: freira assassinada no sul do Pará e provavelmente eu, “morta” por ideais que como eles, não mudaram o que parece ser imutável.  
Diante de fatos avassaladores, o contingente de Marias aumenta empilhadas por todos os lugares, sobem e descem os morros, projetando seus sonhos a fantástica loteria televisiva: Lata Velha, Lar doce lar, Esquadrão da moda, Um dia de Princesa... 
Enquanto seres como eu debatia-se em alto mar, afogando-se na passividade de ações alienadas, perturbando e sendo perturbada em diálogos que não se consolidam, pois os anos rebeldes se rebelaram sepultando-se nas caras pintadas de uma juventude dominada pela mídia “bandida”, que sobrevive dos horrores desta violência desmedida, que transforma vilões em astro da TV.
Que para dona Maria. Sim! Aquela que sonho ser, mas não consigo, pois ela acredita que tudo não passa de um grandioso espetáculo da TV que termina quando o apresentador do telejornal diz: Boa noite. 

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