Durante algum tempo as batalhas envoltas por grandes e
contagiantes vitórias desviaram os pensamentos de Athena, que disse ao mundo e
a todo Olímpo que seus princípios eram invioláveis, matando sem piedade Perseu.
Vingativo o tempo, senhor de todos os acontecimentos,
planeja com Hades e Ares uma forma de desvendar os motivos que a levaram a uma
escolha tão dura, eles acreditavam que estava ali à chave para destruir Zeus,
que sentiu pelas mãos da filha a dor infinita de perder seu amado filho Perseu.
A morte dos filhos de Zeus era com
toda certeza o melhor e o mais rápido caminho. Preso
por Hades nas teias da escuridão, o oráculo dos segredos revelou a ele que
haveria um tempo em que o coração de Zeus teria uma grande fenda e quem
conseguisse passar por ela, descobriria as trilhas do desconhecido caminho de
onde ele trazia e para onde leva os mortais.
Este segredo foi revelado ao oráculo em um momento de
embriagues do senhor absoluto, que por descuido tomou as lágrimas de Cupido e
passou a amar desesperadamente uma mortal que lhe entorpeceu os sentidos com
sua imensa beleza e sabedoria, porém preferiu a morte a se entregar a ele.
Dentro da cabeça de Zeus, ela o atormentou em silêncio.
Ensandecido por não conseguir tirar de sua memória o sorriso de satisfação da
mortal que tirou a própria vida, antes que ele a possuí-se, era fiel aos seus
princípios e à morte não era nada.
Para se livrar
de tamanha loucura, Zeus pega seu machado e abre sua cabeça, e é neste momento
de desespero que uma vida ressurge, nasce Athena, a deusa da sabedoria e da
guerra, que guarda no olhar as virtudes da mãe, nos braços a força do pai e em
sua cabeça a grande batalha de manter pela eternidade os princípios que lhe deu
a vida.
Diante das informações do oráculo, Hades pede ao deus
do tempo que arraste Orfeu até o princípio de seu sofrimento, pois precisava da
lira utilizada por ele para encantar Morfeu, a quem obrigaria a tomar a forma
de Perseu para perturbar Athena e conduzi-la ao mesmo desespero que tirou a
vida de sua mãe.
Com Eurídice presa nas portas do inferno, Hades
barganha com Orfeu sua liberdade em troca da lira, diante da esperança de tê-la
ao seu lado, o deus não pensa, pega sua amada e parte. Hades entrega a lira
para Ares que toca uma linda melodia. Hipnotizado, Morfeu adentra os sonhos de
Athena devolvendo a ela as lembranças destruídas ao matar o semideus.
Como Perseu, Morfeu conduz Athena ao início de tudo e
sua imagem volta a balançar em suas lágrimas enquanto se purifica. Distraída
pelos encantos de Morfeu, Athena não percebe a chegada de Ares ao seu templo,
era belo demais ter Perseu diante de seus olhos.
Deslizando seu corpo pelos lençóis, Athena sente as
mãos de Perseu tocar seu rosto puxando suavemente em direção ao seu, quando os
lábios da divindade tocam os lábios de Ares, ele enlouquece, tinha nas mãos a
mulher que sempre amou e desejou, porém, seu corpo não consegue conter-se, ele
puxa bruscamente Athena que se vê diante de um Perseu desconhecido e voraz
dentro dos desejos de Afrodite.
Ares vai a
loucura total e rasga as vestes de Athena que toca em sonho a pele de Perseu,
mas a realidade de suas mãos trás para o ar que respira ofegante o cheiro de Ares, que a conduz a lucidez. Sem
que ele perceba, ela pega sua espada e atravessa o coração do deus da Guerra,
semiacordada o último suspiro dele ecoa em seus ouvidos, enquanto ela lhe toca
as faces dizendo baixinho: - Isto é o único momento que você terá.
Ares fica
jogado sobre o leito da deusa que volta a dormir ao lado do corpo que passa a ocupar
o lugar em que sempre deveria estar, nos pés de Athena.
De volta aos seus sonhos, Athena sorri para Perseu e
diz: - Morfeu volte para seu lugar, Perseu é algo que não trago em meus
pensamentos.
Diante deste novo encontro das divindades, os
princípios se mantêm invioláveis e a morte não representa nada aos deuses.
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