Aprendi
desde pequena que tudo que engolimos vira veneno, então, que ele seja
compartilhado.
Sinto
minha alma pegando fogo toda vez que vejo a foto de um candidato poluindo as
ruas da cidade. Enoja-me saber a fortuna gasta com as propagandas enquanto mães
desesperadas não têm onde deixar seus filhos. O asco que me revira as vísceras
sobe e desse como se estivesse engolindo brasas. De maneira paliativa, tento amparar os desamparados, amontoando as
crianças dentro de um cubículo que recebe o nome de escola, lhes servindo horas
exaustivas de estudo salpicadas com olhares de reprovação e de indiferença,
onde o silêncio mata, mesmo que a arma não esteja em nossas mãos. Mas penso eu!
Melhor aqui do que na rua, sendo maltratada e espancada por quem deveria protegê-las,
e o pior de tudo precisa proteger a si mesmo do vício que lhe corroí as
entranhas. Confesso que o rosto marcado daquela menina leva-me ao passado vejo-me
presa pelos cabelos nos dedos enormes de minha vizinha arrastada de um lado ao
outro da rua como quem puxou um cão sem dono... Diante de fatos como este
pergunto a Deus: Que homens esperar para o futuro deste país? Seres duros e
implacáveis como eu? Que trazem em si as marcas que o tempo insiste em cada
ação vivida fazer novamente sangrar? Que
ama a Deus sobre todas as coisas, mas fere sua fé, quando defende o aborto,
pois não suporta ver seres tão especiais sendo maltratados e espoliados pela
ganância que impera e prospera a cada segundo passado? Que tenta manter-se em
pé após horas de profunda agonia por não viver a certeza do que terá no café da
manhã e recebendo como consolo o rótulo de irresponsável por ter tido filhos
demais e indesejáveis, sendo que o posto de saúde lhes oferece remédio gratuito?
Deus! Eles já nasceram e estão aí a mercê da sua própria sorte, enquanto um
único homem ganha sozinho todo mês na Mega Sena, porque trás uma bola no pé. E
que não me falhe a memória, nem todos serão como eu que se agarrou a educação e
chegou até aqui. Porque Ronaldinho, Robinho e Neymar ainda são um em um milhão
de flagelados esquecidos pelas ruas desta grande nação. Senhores políticos,
carecemos da vossa vergonha, retirem não importa de onde o respeito e o amor
que tens pelos seus e olhem por nossas crianças, mas não como votos, como seres
humanos. Sei que jamais deveria dizer isto, mas o veneno que me afoga hoje está
insuportável. Roubem, mais desvie de si mesmo um por cento do que roubarem para
construir Centros de acolhimento às crianças, que no contra fluxo escolar terão
onde ficar. E que não seja por mim, pois eu já estou aqui, mas pela menina com
marcas no rosto e que tem a impressão que isto nunca terá fim... E que a fé que
alimenta nosso espírito não permita que ela seja dura como eu...